A Amanita Design é uma daquelas desenvolvedoras que demoram para lançar jogos, mas os que lançam são de altíssima qualidade. Tendo jogado Machinarium anteriormente, minhas expectativas eram altas para CHUCHEL, lançado em 7 de março de 2018 para PC. Apesar de não estar completamente decepcionado, esperava um pouco mais.

CHUCHEL é um jogo de puzzle e aventura que conta a história do personagem homônimo, que se assemelha a um amontoado de poeira ou de cabelo. Junto com Kekel, uma criatura que alterna entre melhor amigo e arqui-inimigo durante o jogo, ele deve recuperar sua tão desejada cereja, roubada por um gigante no início do prólogo. Esses dois personagens têm uma dinâmica entre si que lembra desenhos antigos como Tom & Jerry. Chuchel soluciona problemas dos mais variados durante o jogo — incluindo minijogos inspirados nos clássicos de arcade e desafios de point-and-click —, um mais adorável do que o outro.

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A dinâmica entre Chuchel e Kekel parece a de personagens em cartuns antigos.

Os puzzles em CHUCHEL são pouco interligados, quase episódicos, tanto em sua lógica de solução quanto em sua história. Apesar dessa variedade ser um ponto positivo por um lado, por outro lado julgo que os desenvolvedores deveriam ter se esforçado um pouco mais para criar uma maior coesão entre eles. O jogo acaba por parecer um “monstro de Frankenstein”, com partes diferentes ligadas minimamente entre si.

A grande maioria dos desafios são resolvidos clicando em objetos na tela para realizar diferentes ações, no melhor estilo point-and-click, mas alguns minijogos esporádicos devem ser cumpridos utilizando as setas do teclado. Os controles, como na maioria dos jogos do gênero, são simples e de fácil aprendizagem. Os níveis são, em si, bem pensados e executados, na sua maioria.

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Alguns minijogos servem para quebrar a sucessão de puzzles de point-and-click.

CHUCHEL é incrivelmente fácil. Não que isso seja necessariamente um defeito, já que todo o estilo do jogo tenta imitar um desenho animado infantil. Uma dificuldade um pouco mais elevada, porém, pelo menos nas fases finais, poderia ser interessante. Apenas algumas fases durante as duas horas de jogo requerem um pouco de esforço mental para serem completadas. O fator replay, excluindo as conquistas da Steam, é praticamente nulo.

A apresentação é clara e obviamente o aspecto de maior foco do jogo, simulando um desenho infantil em capítulos. Tanto o visual quanto o som, apesar de simples, criam essa atmosfera cartunesca e frequentemente engraçada. Essa atmosfera alegre, como lembrança de uma época mais despretensiosa, promove uma fuga muito bem-vinda dos problemas da realidade.

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A atmosfera de CHUCHEL é surreal, cartunesca e frequentemente engraçada.

A trilha sonora é o que se esperaria de um desenho infantil com um toque surreal e experimental. Os sons miram muito mais na comicidade do que na realidade, com poucos sons refletindo a vida real. Não há diálogos, mas Chuchel frequentemente faz sons irreconhecíveis, bem como os Minions da série de filmes animados Meu Malvado Favorito, da Illumination Entertainment. Por mais que possam surgir boas piadas desse conceito, ele se torna insuportavelmente irritante em alguns momentos. Aliás, o jogo reconhece o quão irritante Chuchel pode se tornar, mas isso não o faz mais suportável.

Bem como todo o resto do jogo, a direção de arte é uma adorável mescla de um desenho infantil com elementos surreais. Os personagens são coloridos e possuem características exageradas. Os backgrounds são, geralmente, de um tom acinzentado que se assemelha a papel velho, que se torna entediante após várias fases com esse mesmo design, e foi uma surpresa desagradável vindo da mesma equipe que criou os cenários mega-complexos de Machinarium.

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A maior parte das fases de CHUCHEL compartilham do mesmo background.

CHUCHEL aposta principalmente em humor físico, então as animações são extremamente importantes, e com essa proposta funcionam bem. Contudo, elas algumas vezes são longas demais, o que acabou me irritando. O cursor do mouse desaparece durante as animações, o que também foi um incômodo. A maioria das animações, no entanto, felizmente são divertidas e inusitadas, estimulando o jogador a testar todas as possibilidades de interação com o cenário.

No fim das contas, o jogo é um simples passatempo que, apesar de aprazível, não é nada além disso. Pode oferecer tanto momentos de diversão quanto momentos de frustração, mas é muito difícil não se apaixonar pelo seu estilo gráfico e sonoro.


Conclusão

Em um mundo em constante mudança e cheio de problemas e complicações, CHUCHEL parece um abraço reconfortante com sua atmosfera infantil e inocente. Ele tem vários problemas patentes, porém, e não chega perto do nível de qualidade de jogos anteriores da Amanita Design.

(Cópia para análise gentilmente cedida pela Amanita Design)