Eu estava saturado de jogos que tinham qualquer tipo de violência. Como o cenário indie oferece alternativas para todos os gêneros e ainda traz tantas inovações, procurei algum título que realmente me chamasse a atenção para fazer análise. No fim das contas, achei InnerSpace, e parece que ele entrega (quase) tudo que eu esperava. Sou fã de ABZÛ e sinto que é uma grande inspiração para este jogo da PolyKnight Games. Foi lançado no dia 16 de janeiro para PC, PS4, Xbox One e Nintendo Switch.

InnerSpace é um jogo onde seu único objetivo é explorar um universo inteiro em busca de artefatos preciosos e respostas sobre a história dele. Um dos personagens principais é o Arqueologista, um homem que viajou a essa dimensão apenas para entendê-la, mas precisava de um parceiro para ajudá-lo, então criou uma nave chamada Cartógrafo (ou simplesmente Cart), que o jogador controla. Basicamente, é um simulador de voo onde você pode fazer o que quiser, na hora que quiser — e isso me conquistou.

Quanto mais você explorar, melhor.

Esse universo cheio de mistérios é chamado de Inverso (e o nome é autoexplicativo). O chão é um imenso mar e o céu é apenas terra, e várias estruturas circundam entre esse espaço. É como se o céu fosse seu interior. Tudo isso foi criado por deuses, que ainda o habitam (mas não são mostrados), e existem muitas dúvidas sobre essa existência, o que torna mais interessante a exploração. Você pode fazer perguntas ao Arqueologista sempre que encontrar sua nave, e ele explica o que você deve fazer a seguir. Adoro essa interatividade, porque em várias horas me senti perdido, mas os diálogos não são naturais na medida que deveriam ser. Parecem robóticos, apesar de conterem frases que seriam, teoricamente, sentimentais. Enfim, o que posso dizer sobre toda essa simples narrativa é que é original e não peca em tantos aspectos; é ideal para esse estilo de jogo.

A narrativa tem seus erros, mas continua sendo boa.

O jogo já começa com um tutorial que serve tanto para ensinar ao jogador seus controles quanto para ajustar suas preferências, e é muito dinâmico. Logo, você é apresentado a diversos mundos e já pode se sentir livre para fazer o que bem entender. Você pode mergulhar nos mares ou voar pelos céus, e a jogabilidade é muito satisfatória, até porque você a calibra aos seus gostos para torná-la mais completa. O maior erro é somente não ter muito o que fazer, e devido a tamanha proporção do mapa, suas missões de procurar certos mantimentos/minerais são dificultadas. É certamente um jogo para você relaxar e aproveitar a belíssima paisagem, que de tempos em tempos te surpreende de alguma forma, seja com um túnel que te leva a algum lugar natural ou um Sol que aparece no meio do mar. Criatividade não falta.

Você se surpreenderá a cada momento.

InnerSpace é um dos únicos jogos onde não é possível determinar uma média de tempo tão precisa, dependendo do jogador, mas diria em torno de 6 horas. É o título perfeito para você jogar em momentos de estresse, então deve ser jogado sem pressa com o único intuito de relaxar. Se você gosta de “tiro, porrada e bomba”, não o indico. O fator replay, na minha opinião, é ótimo, mas de acordo com o meu estilo de jogo. Pode ser realmente monótono para a maioria das pessoas, devido à falta de um objetivo definido. Se você gostou de tudo que falei até agora e está satisfeito com as propostas do jogo, ele te renderá muitas horas.

A trilha sonora não é tão variada quanto deveria ser, mas é talvez a parte que mais traz imersão ao jogo. Tem uma ambientação com uma frequência agradável, tem kicks e hihats muito bem escolhidos, e é como um lo-fi espacial — chegou até a me lembrar do álbum ASTROWORLD, de Travis Scott, mas obviamente muito mais calmo. Enfim, ela é de suma importância para InnerSpace como um todo. Aliás, estou ouvindo-a enquanto escrevo essa análise. Já sobre os efeitos sonoros, digo que são muito bem programados. Reparei até nos sons emitidos pelas asas da nave, e eles se alteram dependendo da intensidade dos movimentos. Muda minuciosamente. É satisfatório ver algo tão polido.

Esse jogo é mais uma prova de que não são só os AAAs que sabem fazer bons gráficos. A escala de resolução desse não é a melhor, mas a qualidade da arte em lowpoly que eles fizeram é de outro mundo. Nem é só na questão visual, porque o mapa também é muito bem arquitetado. Às vezes o jogo não deixa claro o que é para realmente se fazer, mas não posso negar que o design do mundo é bom. Em suma, a direção de arte é a melhor parte de InnerSpace, e desenvolve muito bem desde o menu até as naves, apesar que as telas de carregamento podem parecer algo poluídas, tentando compensar esse fato com sua interatividade.

A direção de arte é praticamente impecável.

InnerSpace é um jogo muito bom, porém com um público muito limitado. Ele te joga em diversos mundos a serem explorados, mas sua tranquilidade pode significar monotonia se jogado em mãos erradas. É uma obra de arte. Constrói o ápice do relaxamento porque mistura o silêncio com uma ambientação musical e visual que te leva a altos ares.

Um comentário que eu deveria fazer é que esse título pode servir como porta de entrada para muitos leigos ao mundo dos videogames. Seja por mecânicas ou até mesmo a sensação de jogá-lo. Julgo que muitas pessoas que estão cansadas de seu cotidiano poderiam usá-lo como válvula de escape, assim como eu usei — e continuarei usando.


Conclusão

InnerSpace é uma experiência relaxante, um jogo polido, uma obra de arte. Infelizmente, apenas pessoas que procuram algo mais tranquilo conseguem aproveitá-lo, por ser tão zen. A forma com que ele ambienta esse universo alternativo é excepcional, e mesmo com o jogo pecando em sua narrativa e por não ser tão direto, merece a atenção de muitos.