É muito difícil desenvolver um jogo engraçado. A comédia é relativamente subjetiva, e criar um jogo inteiro baseado em um tipo de comédia ou em uma piada é arriscado, já que, se o jogador não achar graça, grande parte do jogo perde o sentido. Deve ser por isso que a comédia é, possivelmente, um dos gêneros menos explorados do mundo dos games, com poucos jogos lançados por ano. Algumas séries que prosperaram no gênero são The Sims, Portal e Saints Row. A desenvolvedora Free Lives criou sua própria versão do gênero com Broforce, lançado em 15 de outubro de 2015 para PC, depois de mais de dois anos de acesso antecipado, em 1 de março de 2016 para PlayStation 4 e em 6 de setembro de 2018 para Switch.
O enredo de Broforce é um assunto complicado. A história começa como uma sátira da invasão militar por parte dos Estados Unidos em países asiáticos, com desculpas bobas e sem sentido. Um militar descreve a missão e os motivos antes do início de cada uma delas e, nesse momento, as piadas funcionam muito bem. Me vi rindo alto em alguns momentos. A partir da metade do jogo, entretanto, o enredo dá uma reviravolta, abandonando completamente o que havia sido estabelecido antes e criando um novo inimigo. É a partir desse momento que o enredo começa a degringolar.

A história, então, perde completamente a magia de uma simples sátira para se tornar confuso e cansativo, além de extremamente repetitivo (essa que é uma característica comum em vários aspectos do jogo). E, na última fase, o jogo abandona novamente tudo que havia sido estabelecido para criar uma nova ameaça. Parecem três enredos escritos por pessoas diferentes e sem nenhum contato, colados sem preocupação com a coerência entre eles.
O mapa para escolha de fases é interativo, onde o jogador pode controlar um helicóptero e voar até o local da missão. Os gráficos, nessa seção, são bem diferentes dos gráficos das fases, mas o sentimento de liberdade torna essa adição positiva. Já dentro das fases, o jogador começa com um personagem aleatório entre os bros. Todos eles fazem referências a heróis de ação do cinema, fazendo trocadilhos com seus nomes, sempre incluindo a palavra “bro”. Conan vira Bronan, Rambo vira Rambro, Robocop vira Brobocop, e por aí vai.

Todo personagem possui uma arma primária, com munição infinita, e uma arma secundária, bem mais forte mas com munição limitada. A munição da arma secundária pode ser reabastecida com caixas de munição que aparecem esporadicamente. Caso o jogador encontre uma jaula com um personagem dentro pedindo para ser salvo, ele pode salvá-lo quebrando a jaula, assim obtendo mais uma vida e trocando para outro personagem randomicamente. Todos os personagens morrem com um golpe.
O grande problema de tamanha variedade de personagens é o desbalanceamento absurdo entre eles. Alguns personagens são clara e objetivamente muito melhores que outros, e às vezes é muito mais questão de sorte na escolha do personagem do que de habilidade para completar uma fase.

Outro problema é a quantidade de inimigos na tela. Numa tentativa de inflar a dificuldade artificialmente, muitos inimigos são colocados em algumas fases, forçando o jogador a segurar o botão de ataque, para atirar continuamente. Mas o jogo, então, inclui barris de explosão imediata, que punem o jogador que segurar o botão. Tentar desviar dos barris e ao mesmo tempo prestar atenção nas dezenas de inimigos que se mexem ao mesmo tempo tentando atacar o jogador não é desafiador ou divertido, é simplesmente tedioso.
Felizmente, quando esses problemas são superados e o jogador pode aproveitar o gameplay de verdade, a jogabilidade é divertida e satisfatória, e a destruição quase completa do cenário dá um bom passatempo. O jogo começa fácil e termina difícil, então apesar de algumas fases tentarem aumentar a dificuldade artificialmente, a curva é, em geral, bem feita.

Broforce é muito longo. The Expendabros, jogo lançado gratuitamente como demonstração de Broforce, funciona tão bem porque sua campanha dura aproximadamente 1 hora. A versão completa peca pela variedade. Depois que você desbloqueia todos os personagens, não há nada de novo. A partir disso, todas as fases são repetições do que já foi feito antes. E repetir a mesma coisa de novo e de novo não é divertido, é cansativo, e encoraja o jogador a abandonar o jogo antes de completá-lo.
Os controles são precisos e de simples aprendizado. A melhor maneira de jogar é com um controle. A única ressalva é a vibração mais do que excessiva do mesmo. Encorajo o desligamento da vibração no caso de jogar com um controle.

Os gráficos e a música também sofrem com a repetição onipresente durante todo o jogo. A pixel art é muito bem feita e expressiva, mas a maior parte das fases têm o mesmo aspecto. Quando o inimigo principal muda, na metade do jogo, novos inimigos aparecem, e todos são apenas reskins de inimigos anteriores. Alguns bugs gráficos também ocorrem, mas não atrapalham a jogatina.
A música é igualmente boa e igualmente repetitiva. Existem muito poucas músicas no jogo. Durante as fases de invasão, todas são sonorizadas da mesma forma, e a música tão repetitiva começa lentamente a irritar, chegando a um ponto em que eu abertamente desliguei o som do jogo e comecei a ouvir a minha playlist para espairecer. Os efeitos sonoros, porém, encaixam precisamente com o que se vê na tela.
Conclusão
Broforce é um jogo de ação e comédia muito bem feito e extremamente divertido em um primeiro momento, além de ser uma ótima homenagem aos clássicos heróis do cinema estadunidense. Ele é tão longo e repetitivo, porém, que a felicidade do jogador vai lentamente se esvaindo, até sobrar somente uma expressão de frustração e cansaço.