A Akupara Games, distribuidora de outros indies já abordados aqui no site, como Little Bug e Whispering Willows, publicou em 11 de dezembro de 2018 para PC, PS4, Switch e Xbox One o primeiro jogo de destaque do desenvolvedor australiano Oscar Brittain, Desert Child.
Um auto-denominado RPG de corrida, Desert Child se passa num mundo futurístico com influências cyberpunk. Nele, o jogador controla um piloto de hoverbikes — motos flutuantes — e fã de miojo. O objetivo principal é chegar em Marte para concorrer no Grand Prix que se passa no planeta vermelho, se tornando o melhor motociclista no universo. A principal — e quase única — mecânica do jogo são as seções que misturam tiro e corrida com obstáculos.

A história não passa muito do que já expliquei. Há interações básicas com NPCs, mas nada de especial para realmente motivar o jogador além do desejo de chegar em Marte. Esses NPCs são encontrados nas ruas das cidades e lojas que podem ser adentradas. As conversas também parecem, como grande parte desse jogo, priorizar parecerem legais, modernas e jovens, o que acaba resultando em frases que geram mais vergonha alheia do que qualquer outra coisa. A tradução para o português igualmente parece ter exagerado neste quesito.
Além das corridas de hoverbikes, o jogador pode caminhar pelos cenários comprando e vendendo itens, melhorar seu veículo, consertá-lo, etc., mas tudo parece muito superficial, não há um elemento que engaje como deveria. Tudo depende do nível de gosto que o jogador possui pelas corridas, porque é só isso que ele vai estar fazendo por todo o jogo.

Desert Child é inteiramente muito fácil, o que só adiciona à monotonia das corridas. Demorei cerca de três horas para atingir o final decepcionante do jogo. O fator replay, pelo menos para mim, é muito baixo, já que, durante o jogo, você já está repetindo a mesma coisa inúmeras vezes. A minha única vontade depois de finalizar a campanha foi a de nunca mais ter que jogar nenhuma corrida neste universo.

Tanto a trilha sonora quanto os gráficos denunciam o maior problema deste jogo. O criador dedicou tanto tempo a esses dois aspectos que parece ter esquecido que o ponto principal de um jogo é o que deve ser jogado. Desert Child se assemelha mais a uma peça para o portfólio de um artista de pixel art ou de um músico do que a um jogo completo.
A trilha sonora é incrível. Todas as músicas se encaixam bem — em uma seção de entrega de pizzas, por exemplo, a música descreve isso e chega a ser cômica do jeito bom — e criam uma atmosfera, e os sons são bem mixados para preencher o ambiente. Os gráficos são lindos. Cores vibrantes e marcantes, animações quirky e sprites detalhados garantem um estilo muito único a Desert Child, que segue a filosofia criativa do jogo.

Desert Child parece ser fruto de uma falta de entendimento fundamental da mídia vídeo-game. Oscar Brittain dedicou todos os seus recursos a criar algo esteticamente apelativo e não percebeu que estava falhando no aspecto mais básico para que criar um bom jogo: a jogabilidade. Afinal, um jogo feio pode ser salvo por um bom gameplay, mas um jogo com um mau gameplay nunca será salvo por sua beleza.
Conclusão
De pouco vale ter um jogo esteticamente belo se o seu gameplay é repetitivo, monótono e insípido. Oscar Brittain parece infelizmente não tê-lo percebido a tempo, e Desert Child acabou por se tornar mais um indie bonito e extraordinariamente raso.
(Cópia para análise gentilmente cedida pela Akupara Games através do IndieBoost)