Durante a Steam Next Fest deste ano, a Digixart lançou uma demo de Road 96, jogo que se fundamenta em sua mecânica de enredo fragmentado e randomizado, incentivando o replay e evitando que duas jogatinas possam ser iguais.

Ao iniciar a demo, me foram feitas duas perguntas por uma voz incorpórea: por que motivo eu assisto filmes e o que eu faria se fosse contra o governo regente. Não tenho certeza de como minhas respostas afetam o gameplay, mas respondi de forma mais sincera e fui logo transportado para o sidecar de uma moto, pilotada por dois bandidos mascarados que tinham aparentemente acabado de roubar um banco, pela quantidade de dinheiro em uma caixa logo ao lado. Enquanto eu conversava com eles e eles conversavam entre si, eu ainda pude olhar em volta, coletar itens colecionáveis e até realizar ações furtivas. De repente, um carro de polícia se aproxima e, em desespero, os bandidos pedem para que eu jogue dinheiro no para-brisas do carro, em uma tentativa de atrapalhar a visão dos policiais. O jogo, nesse momento, se tornou um minijogo frenético, quase de tiro em primeira pessoa.

Alguns diálogos e ações são acompanhados por um ícone significando sua importância para o prosseguimento da história, que pode significar três coisas: um punho fechado significa uma ação revolucionária, de revolta ativa contra o governo vigente; um voto sendo inserido na urna significa uma ação contrária ao governo, mas mais discreta e, por vezes, menos efetiva; por fim, uma cesta de trapos representa uma ideia de distanciamento do governo, a vontade de simplesmente fugir ao invés de ficar e se opor ao líder. Logo de cara, eu não esperava que o jogo fosse focar tanto em figuras e ideias políticas. No país de Petria – que, vale dizer, se assemelha muito aos Estados Unidos – no verão de 1996, um presidente tirano controla o país com mão de ferro. O jogador controla um adolescente que tenta fugir para a fronteira, atividade aparentemente ilegal.

Os bandidos, agradecidos por minha ajuda, resolvem me dar uma carona até mais longe. O contador de quilômetros restantes até a fronteira diminui, e apareço de volta em um posto de gasolina, onde outro adolescente, também a caminho da fronteira, tenta conseguir uma carona. O dono do posto me chantageia a trabalhar para ele para que eu não seja dedurada à polícia – aparentemente, meu rosto está em um cartaz de adolescentes caroneiros desaparecidos – mas depois de alguns estágios no minijogo de frentista, surge um carro policial com uma agente. Conversas e desconversas depois, uma outra vã chega com dois guardas e prendem o outro adolescente, que tinha tentado se esconder, à força. A cena, apesar de ser estilizada graficamente, inesperadamente me chocou, trazendo à tona imagens bastante cruéis de violência policial que se tornam cada vez mais presentes no nosso dia-a-dia.

A policial do carro confronta os dois guardas quando tentam me prender, dizendo que cuidaria disso. Alguns momentos depois, ela me libera para que eu possa voltar ao posto, afirmando discordar das ações dos guardas que ela considera abuso de seus poderes, mas mostrando pouca esperança de mudança nesse sentido. Voltando ao posto, o jogo realmente se abre. Nesse momento, sim, percebi o maior potencial do jogo. O cenário vasto, a trilha sonora absolutamente fenomenal com faixas eletrônicas e acústicas, as fitas colecionáveis escondidas, as imensas possibilidades do que fazer. Eu, por exemplo, entrei no barraco do dono do posto, roubei seu cartão de crédito, levei ao caixa eletrônico e saquei 10 dólares – eu poderia ter sacado $40, mas a possibilidade de dar certo era menor, então resolvi não arriscar – com esse dinheiro recém-adquirido, comprei uma barra de cereais e uma garrafa de água para encher minha barra de energia. Então, desliguei a televisão do posto e pus uma fita que havia encontrado para tocar, gastei 4 dólares em raspadinhas, joguei um jogo em um fliperama ali presente e fui descansar. Passadas algumas horas, quebrei a fechadura de um armário, roubei a chave do carro do dono do posto e parti para a estrada. Assim, a demo foi concluída.

Mesmo tendo feito muita coisa, ainda haviam inúmeras outras opções – eu poderia ter chamado um táxi para me levar embora, ligado para casa, pedido carona na estrada, procurado itens no lixo (ação que requer uma habilidade determinada), entre outras. Jogando a demo pela segunda vez, eu pude pichar cartazes a favor do presidente, jogar um jogo primitivo de tanques contra um garotinho programador, arrombar um carro e descobrir sobre um atentado que havia ocorrido dez anos antes desse enredo, além de infindas outras coisas. Se o objetivo dessa demo era me deixar animado para o jogo completo, pode ter certeza que ela teve sucesso. E, cá entre nós, esse jogo promete ser um dos melhores do ano.

Road 96 será lançado para PC e Switch ainda em 2021.