Inovação é algo difícil de se fazer em jogos de puzzle, especialmente no gênero dos point-and-click, que já foi extensivamente explorado nas últimas décadas. Gorogoa, lançado em 14 de dezembro de 2017 para PC, iOS e Switch e em 22 de maio de 2018 para PS4 e Xbox One e desenvolvido inteiramente por Jason Roberts e publicado pela Annapurna Interactive, porém, consegue, além de inovar, oferecer uma experiência profunda e única.

Gorogoa é um jogo de puzzle point-and-click que conta a história de um menino que, ao descobrir sobre o monstro divino que dá nome ao jogo, dedica sua vida a tentar se encontrar com ele. Toda a história evolui a partir de cliques e deslizamentos de painéis.

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Gorogoa conta a história de um menino que procura por uma criatura mitológica.

A narrativa da história é composta apenas por animações, e, desconsiderando os menus, o jogo não possui texto algum. Mesmo assim, ela é cativante e me manteve colado na tela até o fim. Isso se deve à sua atmosfera mística, que ajuda o jogo a tocar em temas como religiosidade e espiritualidade de forma eficaz.

Todo o jogo é dividido entre quatro painéis, cada um podendo conter um “cenário”. O grande diferencial de Gorogoa é que seus puzzles são solucionados deslizando e encaixando esses painéis de formas criativas e diferentes, como um quebra-cabeça em constante mudança. Também é possível se aproximar e distanciar de cada cenário para vê-lo de formas diferentes. Essa novidade traz um frescor que faltava nesse gênero, e as soluções para os desafios parecem nunca se repetir.

Gorogoa começa fácil e vai ficando gradativamente mais difícil, mas nunca chega a ser um grande desafio. Talvez um último desafio que fosse realmente complicado beneficiaria o jogo. Ele é curto, durando cerca de 2 horas em uma primeira jogatina, e o fator replay é quase nulo, justamente pela linearidade dos puzzles.

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O jogador precisa encaixar os painéis de formas diferentes para solucionar os desafios.

A trilha sonora é, em geral, minimalista, justamente para ajudar na criação da atmosfera e dar destaque aos sons que eventualmente aparecem. As músicas, compostas por Joel Corelitz, são impactantes, criando um sentido simultâneo de melancolia e nostalgia. Os efeitos sonoros lembram sons de papel, dando a impressão de que o jogador realmente está mexendo com cartas em uma mesa. Os sons que têm origem dentro das cartas também são muito satisfatórios.

Jason Roberts desenhou todos os gráficos de Gorogoa à mão, e deve ser aplaudido por isso. Por causa deste fato, cada mínimo detalhe parece ter uma personalidade própria e todos os cenários são extremamente agradáveis aos olhos. As cores contribuem com a atmosfera, seja ela desoladora ou esperançosa. As transições entre cenários também são extremamente suaves.

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Gorogoa é simplesmente lindo.

É muito difícil descrever a sensação de jogar Gorogoa em palavras. Todos os pequenos detalhes do jogo foram artesanalmente criados à mão para oferecer uma experiência emocionante. O jogo tem que ser jogado para ser entendido. Escrevendo esta análise, estou perplexo pela sensibilidade e absoluta beleza dessa obra-prima de Jason Roberts.


Conclusão

É impossível descrever Gorogoa em palavras. Toda a sentimentalidade e completa harmonia entre todos os seus elementos, aliadas com um gameplay inovador, tornam este um jogo único e que dificilmente será replicado.