É raro encontrar jogos inspirados por desenhos animados, já que os que optam por um estilo de arte mais cartunesco geralmente não focam no enredo. Por isso é refrescante ver The Adventure Pals, fruto de uma campanha bem-sucedida no Kickstarter pela Massive Monster e publicado pela Armor Games Studios em 3 de abril deste ano para PC, PS4, Switch e Xbox One, tomar inspiração do popular Hora de Aventura.
The Adventure Pals é um jogo de plataforma que segue a história de Mr. B, vilão que transforma as pessoas em cachorros-quentes. O protagonista, junto com sua girafa companheira, claramente inspirados na dupla Finn e Jake do desenho Hora de Aventura, devem salvar o dia. As mecânicas são o que se espera de um jogo de plataforma em 2D. A grande falha da Massive Monster foi ter se focado por demais nas suas referências e inspirações, parecendo esquecer de criar algo original ou inovador.
O enredo não é o ponto mais destacado de The Adventure Pals. A narrativa não é muito coesa, e os acontecimentos parecem mais aleatórios do que interligados. Isso acaba por não ser tão problemático assim, porém, já que esses acontecimentos são bons o suficiente para criarem situações onde o gameplay se desenvolve. Alguns momentos são cômicos, o que adiciona um charme extra à história.
O jogador passa a maior parte do tempo em fases bidimensionais. Os leiautes não seguem necessariamente um padrão vertical ou horizontal, e o final da fase pode estar em qualquer lugar. Essa é uma mudança benigna, mas mínima, justamente porque o design dos níveis parece muito trivial. Nenhuma fase possui uma identidade única na forma como se organiza, e todas acabam por parecerem a mesma, fato que não é ajudado pelos gráficos.
Outra parte da jogatina, ainda nessas fases bidimensionais, é o combate. Apesar de ser, em sua maioria, desajeitado e lento, quebrando a fluidez de movimento dos personagens, ele possui seus momentos satisfatórios, em especial com o sistema de combos. As lutas contra chefões também podem ser consideradas pontos altos se tratando de combate, a despeito de algumas exceções. Pessoalmente demorei algum tempo para me adaptar aos controles de movimentação e combate, mas tudo começou a fluir muito melhor com o tempo.
The Adventure Pals também conta com um mapa do mundo, que garante movimentação livre dos personagens. Esse é, todavia, completamente desnecessário e insípido, se assemelhando mais a um bloco vazio de grama com alguns pontos relevantes marcados.

O jogo não se torna desafiador até os momentos finais, em especial se estiver sendo jogado em multiplayer. Demorei cerca de 10 horas para finalizar o jogo, mas passei longe de obter todos os cupcakes, colecionáveis que garantem a possibilidade de desbloquear uma coletânea de outros itens estéticos ou de coleção. Alguém que planeja adquirir todos os objetos possíveis pode esperar um tempo de jogo bem mais longo.

É nos quesitos artísticos que The Adventure Pals mais decepciona. Apesar de uma arte bonita e uma trilha sonora agradável, é tudo muito genérico e derivativo demais de outros produtos audiovisuais, em especial Castle Crashers e Hora de Aventura.
A música é a que melhor demonstra essa falta de identidade. Eu particularmente não conseguiria distinguir uma música deste jogo de uma de Castle Crashers. As semelhanças são gritantes. Em especial, a música do mapa do mundo de ambos os jogos é muito similar. Por motivos de direitos de autor, eu não posso incluí-las aqui, mas procurem e verão. Os efeitos sonoros são aceitáveis, mas também caem no problema da genericidade.
Os gráficos também são uma mistura de Castle Crashers e Hora de Aventura, mas conseguem ser um pouco mais originais. As influências do jogo lançado em 2008 pela The Behemoth são sobretudo visíveis nos designs dos inimigos. Em geral, a arte é colorida e divertida, e as animações são fluidas. As poucas cutscenes presentes no jogo também se encaixam nesse estilo. Por vezes, contudo, o foreground e o background se misturam, causando erros frustrantes de plataforma por parte do jogador.

Ultimamente, The Adventure Pals é um jogo muito competente, mas a aparente falta de ambição, com um gameplay previsível, acaba por ser decepcionante. A carência de uma identidade própria é patente. É difícil dar uma nota final a este jogo justamente por ser uma experiência aproveitável, mas, ao mesmo tempo, não mostrar nenhum desejo de avançar a indústria ou criar algo novo.
Conclusão
Ainda que seja tecnicamente competente, The Adventure Pals infelizmente se torna esquecível por causa da falta de ambição dos desenvolvedores. Pelo medo de errar, a Massive Monster se manteve em sua zona de conforto, condenando o jogo à mediocridade. Ele ainda pode ser um passatempo divertido, porém, em especial se jogado com um amigo.
(Cópia para análise gentilmente cedida pela Armor Games Studios através do IndieBoost)