A desenvolvedora The Voxel Agents nunca foi muito reconhecida pelo público geral. Eles são um pequeno time que, antes de The Gardens Between, tinha desenvolvido apenas jogos para celular – sendo Train Conductor World e Puzzle Retreat os mais famosos -, mas às vezes os melhores presentes vêm nos menores pacotes.
The Gardens Between é um jogo de puzzle que conta a história de Arina e Frendt, duas crianças que desenvolvem uma amizade a partir do momento em que se tornam vizinhos, gastando a maior parte de seus dias brincando ao redor de sua casa na árvore. Cada uma das fases de aparência surreal passa por momentos que vivem juntos, misturando a realidade com a fértil imaginação de ambos.
A capacidade do jogo de destacar objetos e situações que parecem banais e valorizar cada memória da infância dessas crianças é comovente.

Cada uma das crianças tem uma habilidade única – Arina carrega um lampião que pode ser iluminado quando se aproxima de uma flor iluminada, enquanto Frendt pode manipular os mecanismos que alteram o leiaute da fase – que deve ser coordenada com a habilidade do jogador de avançar e retroceder no tempo para cumprir o objetivo principal: levar o lampião aceso a um altar presente no final da fase.
Os controles são extremamente simples. Apenas três teclas são utilizadas: a barra de espaço, para interagir com objetos, e as setas para a esquerda e direita, para retroceder e avançar o tempo, respectivamente. As mecânicas são gradativamente apresentadas sem nunca sobrecarregar o jogador. Isso não significa que os puzzles apresentados sejam fáceis.

É no design dos níveis aonde The Gardens Between mais peca. Por vezes, me senti frustrado pela lentidão na qual o tempo avança e retrocede, bem como pela repetição constante de algumas mecânicas em certas fases. Em alguns desafios, senti que a melhor solução para o problema seria o método de tentativa e erro, desencorajando o raciocínio. A maior parte do jogo, no entanto, felizmente escapa deste problema.

O ponto alto do jogo são seus gráficos. Seu estilo singular é, ao mesmo tempo, divertido e nostálgico. The Gardens Between, sem proferir uma única palavra, consegue contar uma história que emociona, traz boas lembranças e faz refletir, simplesmente através de suas animações fluidas e cores vibrantes.
Os objetos que constituem as memórias de uma amizade de infância, vistos pelos olhos inocentes de Arina e Frendt, são exagerados, distorcidos e modificados. O mundo, para essas crianças, é um parque de diversões. Esse sentimento de descobrimento e admiração pelo mundo ao redor permeia o jogo em seu todo.

A trilha sonora, composta com a colaboração de Tim Shiel e Gotye (sim, aquele Gotye), ajuda a construir a atmosfera surreal e está sempre presente. Os sons, de alguma forma que eu não consigo compreender por completo, transmitem uma sensação de nostalgia, um misto de alegria e tristeza por relembrar memórias que já se foram e não mais voltam. Em certos pontos, porém, a música parece ultrapassar a atmosfera da fase, não se encaixando muito bem com o sentimento geral.

The Gardens Between é muito melhor como uma experiência narrativa do que como um jogo. Apesar de não ser muito inovador ou ousado em seu gameplay, a simplicidade de sua apresentação é o que o fortalece. Toda a sentimentalidade que envolve a infância, desde a formação de novas amizades à necessidade de deixar certas coisas para trás, está presente nesse jogo. Ao mesmo tempo, uma mensagem de esperança e de manutenção das memórias vividas com alguém especial também se mostra presente.
Conclusão
A infância é talvez a fase mais determinante da vida de todos nós. Ainda assim, é a fase que encaramos com mais tranquilidade. A simplicidade com que The Gardens Between fala sobre amizades e infância emociona, relembra e faz refletir. Jogar esse jogo é como reviver essas memórias, mesmo que por um curto período de tempo. Apesar de estar longe de ser um jogo perfeito, é uma experiência que eu acho que todos deveriam ter.
(Cópia para análise gentilmente cedida pela The Voxel Agents)