Traffix não busca um conceito original — jogos de controle de tráfego existem desde que a tecnologia permite sua existência — mas a desenvolvedora portuguesa Infinity Games leva esse conceito a um nível mais aparentemente profissional com gráficos clean e jogabilidade simples e efetiva. Com inspirações claras em um dos melhores indies de todos os tempos, Mini Metro, o que sobra em prazer estético acaba por faltar em inovação e diferenciação.
A primeira impressão do jogo não é muito boa. Um menu extremamente simples que não conta nem com as configurações mais básicas que se esperaria de um jogo de computador lançado em 2019 cumprimenta o jogador, e uma música genérica e sem direitos autorais, que qualquer pessoa poderia encontrar em uma breve busca na internet, e consequentemente com quase nenhuma identidade própria é a cereja nesse bolo de decepções logo de cara. Só existem duas opções: jogar ou desligar o som, e os botões para tal parecem estar em uma resolução menor do que o resto do menu. Essa falta de opções mostra um tema que está presente durante todo o jogo: a sensação de se estar jogando um jogo para celular que foi portado para o computador sem qualquer tipo de cuidado ou personalização.

As fases do jogo são divididas em cidades, assim como em Mini Metro. Cada fase possui um objetivo de carros que devem ser levados a seus destinos, e se 10 carros baterem, game over. O primeiro nível se passa em Berlim, onde há um sinal de trânsito, vermelho por padrão. Com um clique, o jogador torna o sinal amarelo, permitindo a passagem de um — ou, em alguns momentos, dois, fenômeno que não consigo explicar — carro, e com dois cliques torna o sinal verde, permitindo a passagem de todos os carros até que o sinal seja desligado novamente. Espero que você goste destas mecânicas, porque é isto que você fará durante todo o jogo. Para piorar, os poucos sons presentes no jogo se repetem exaustivamente, e depois de algum tempo você vai estar rezando para ouvir qualquer outra coisa.
As fases vão passando e — obviamente com o som desligado — eu comecei a aproveitar alguns momentos do jogo. Às vezes, por breves intervalos, tanto quanto em Mini Metro. Mas aí eu passei para a próxima fase e percebi que era a mesma coisa, assim como a próxima, e a próxima, e a depois daquela, e a próxima. Apenas uma nova mecânica é adicionada no jogo, a de carros de polícia, que basicamente servem como um one-hit kill. Se o carro de polícia sofrer um acidente, game over. Mas se, como eu, você estiver tentando evitar todo e qualquer acidente de qualquer forma, a jogabilidade continua exatamente a mesma.

Uma coisa inegável é a qualidade visual de Traffix. A aplicação de degradês e uso de brancos e pretos para chamar atenção para os objetos necessários criam uma atmosfera muito agradável, mas que se torna repetitiva depois de certo tempo. O que torna Auckland Auckland, ou Buenos Aires Buenos Aires, se ambas são só pistas coloridas em um fundo branco?
Traffix não foi feito para o computador, e sim exclusivamente para celulares. O fato de que ele foi publicado para computadores sem quase nenhuma alteração, levando-o para um contexto completamente diferente, é repugnante. É repugnante porque mostra uma falta de respeito para com o jogador, quase como se os desenvolvedores dissessem “esses jogadores aceitam qualquer coisa”. O jogo pode ser aproveitado em intervalos muito curtos em uma telinha de até 7 polegadas, e em nenhum outro contexto.
Conclusão
É difícil recomendar Traffix por um valor qualquer. É o tipo de jogo que é divertido por cinco minutos por dia, mas falha em te prender e é frustrante demais — por ser pouco polido — para garantir diversão pura. A pequena quantidade de sons, gráficos e mecânicas evidenciam a falta de carinho designada a ele. O sentimento que o jogo transmite é corporativo, econômico e muito pouco emocionante, pessoal ou até mesmo divertido.