Jogos AAA normalmente custam 60 dólares nos Estados Unidos, 60 euros na Europa e algo entra 50 e 60 libras no Reino Unido há anos. Mesmo com os preços de produção aumentando, não há relatos de um jogo que tenha vendido muito e ainda assim não conseguido lucro considerável, porque o número de usuários também aumenta a cada ano. Muito pelo contrário, na verdade – Hellblade: Senua’s Sacrifice, por exemplo, teve um alto valor de produção, custava dois terços do preço de um jogo AAA normal e conseguiu recuperar todos os custos em menos de três meses no mercado, mesmo sem grandes esforços de marketing, estando presente em apenas duas plataformas e sendo um produto de nicho. Outro exemplo é que a Microsoft, que lança todos os seus exclusivos no Xbox Game Pass no dia de lançamento, parece estar bastante contente com este formato e seu lucro. Mas não satisfeita com lucros exorbitantes de seus exclusivos, a Sony parece querer ainda mais.

Returnal, jogo mais recente publicado pela Sony Interactive Entertainment, foi desenvolvido por uma equipe modesta (se comparada com o tamanho das equipes de grandes desenvolvedoras) de cerca de 80 pessoas no estúdio finlandês Housemarque. Sendo um projeto com um orçamento de marketing relativamente pequeno e vindo de uma desenvolvedora relativamente desconhecida, que sempre cobrou cerca de 20 dólares por cada um de seus jogos anteriores, não seria injusto esperar um preço de 40 ou 50 dólares pelo produto. Mas, sendo publicado pela SIE, ele custa 70 dólares nos Estados Unidos ou, ainda mais absurdamente, 80 euros na Europa e 70 libras no Reino Unido, o equivalente a quase 100 dólares, ou mais de R$500.

Talvez você tente argumentar que Returnal teve seu desenvolvimento encarecido graças a tecnologias como 4K e 60 quadros por segundo, mas este definitivamente não é o caso. Em uma entrevista com a Axios, Mikael Haveri, diretor de marketing da Housemarque, afirmou só ter descoberto o preço de 70 dólares do jogo quando ele foi anunciado para o público, e que o desenvolvimento do jogo só focou em oferecer um valor melhor do que o de 20 dólares dos jogos anteriores da empresa.

Isso continua a tradição da Sony de cobrar preços absurdos e acima do mercado para os jogos de PlayStation 5 publicados por si – o mesmo aconteceu com o mediano Godfall no lançamento do console, por exemplo, e acontecerá no futuro com God of War Ragnarok, Horizon Forbidden West e Ratchet and Clank: Rift Apart. Mas nenhum caso exemplifica a soberba da empresa japonesa mais do que a história de MLB The Show 21. A franquia de basebol, que era exclusiva da Sony até a versão anterior, teve seu primeiro lançamento multiplataforma este ano, graças às exigências dos detentores da propriedade intelectual. A MLB Advanced Media, publicadora do jogo para Xbox One e Xbox Series X/S, decidiu incluí-lo no Xbox Game Pass desde seu lançamento. Mas, ainda sendo publicado pela Sony Interactive Entertainment para PlayStation 5, seu preço foi afixado em 70 dólares ou 80 euros, dinheiro suficiente para garantir oito meses de Xbox Game Pass, que também inclui mais de uma centena de outros jogos, entre AAA e indies. Não é preciso fazer grandes cálculos para perceber qual é o melhor uso de seu dinheiro.

Em um cenário de crise econômica graças à pandemia, a Sony só parece ficar cada vez mais gananciosa, seja pelos preços exorbitantes de seus exclusivos ou pela cobrança extra de desenvolvedoras que queiram permitir crossplay entre o PlayStation e outras plataformas. Enquanto a Microsoft oferece opções acessíveis, como o Xbox Series S e o Xbox Game Pass, e até mesmo a Nintendo oferece o Switch Lite, versão bem mais barata e portátil do Switch, a Sony parece solidificar cada vez mais seu produto como um aparelho elitizado, exclusivamente para ricos, que vêm obviamente da ideia de que a marca PlayStation é imbatível e inigualável. É difícil não lembrar do lançamento desastroso do PlayStation 3 neste momento, e torcer para que essas ações anti-consumidor resultem em consequências palpáveis para a empresa.