Celeste é o aclamadíssimo título da desenvolvedora Matt Makes Games, a mesma de TowerFall, com o auxílio de Noel Berry e da brasileira MiniBoss. Foi único jogo indie indicado a Jogo do Ano de 2018 pela maior cerimônia de premiação no cenário gamer, a The Game Awards. Pode ter um visual fofo, mas trata de assuntos seríssimos e tem um gameplay muito desafiador. É simplesmente uma das experiências mais inesquecíveis que um jogador pode ter, e hoje veremos o porquê. Foi lançado para PC, PS4, Xbox One e Nintendo Switch no dia 25 de janeiro de 2018.

Celeste é um jogo de plataforma em 2D onde o jogador assume o papel de Madeline, jovem que tem como missão escalar uma montanha. Desde o início, já recebe o aviso de que sua jornada será dificílima e que não voltará viva. Realmente… tanto que morri cerca de quinhentas vezes na primeira fase, e isso nunca tinha acontecido comigo. Por mais incrível que pareça, quanto mais eu jogava, mais eu me sentia preso ao jogo.

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Bem-vindo a uma aventura perigosíssima.

Não há uma explicação já de cara sobre o que a protagonista esperava ao começar nessa aventura. Prepare-se para relembrar de episódios pessoais e aprender muito. Se eu contar sobre o que se trata, acaba a graça. Digo que o enredo é muito bem contado e com um toque poético forte. O engraçado é que mesmo sem ter uma narrativa “fixa”, consegue ser incrível. Você conhece os personagens através de diálogos simples e curtos, mas que dizem muito. A preocupação com a identidade deles foi tão bem-feita que um dos mais icônicos deles, Theo, possui uma conta no Instagram. Enfim, você tem que testar para entender tudo. Sairá emocionado e com várias reflexões pertinentes no mundo atual.

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Theo é, com certeza, um dos personagens mais carismáticos.

Celeste tem uma jogabilidade extremamente desafiadora, mas abraça sim jogadores iniciantes — desde que eles tenham paciência. Na teoria era para ser fácil, porque você só pode pular e dar um dash, e ainda pode usar cheats disponíveis nas opções (como deixar a protagonista imortal e afins), mas não é assim. Felizmente, é equilibrada e viciante; acerta em todos os seus pontos, por mais que simples. O segredo é treinar sua precisão. E, antes que perguntem, joguei com os joycons do Nintendo Switch, e mesmo assim não senti grandes dificuldades.

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A jogabilidade é acessível a todos os jogadores, mas continua sendo desafiadora.

A cada fase, os cenários mudam bastante, e a beleza de todos é encantadora. Continuam aumentando a dificuldade na maneira correta e sendo intuitivos. Para os que desejam algo mais “doloroso”, se posso assim dizer, existe o modo Lado B, que deixa os mapas ainda mais complexos. Por mim isso já é masoquismo, mas é uma possibilidade para os mais esfomeados por desafio.

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Se quiser uma experiência ainda mais difícil, pode optar pelo modo “Lado B”.

Já comentando sobre outros modos de jogo, existe um “clássico”, que é em 8-bits e bem mais simples. Foi surpreendentemente desenvolvido em apenas 4 dias e se chama PICO-8. Ele é bem mais antigo que a campanha em si, mas foi disponibilizado como um easter egg presente em um computador. Depois que você o encontra, fica no menu para ser jogado a hora que quiser. Se quiser testar de graça, é só clicar aqui.

O fator replay é ótimo. Sua campanha pode ser terminada entre 6 e 8 horas, e sua vontade de jogar ainda mais sempre vai ser maior. O desafio te mantém grudado na tela. Algo que deixa Celeste ainda mais desafiador são os morangos, colecionáveis espalhados entre os mapas. Na minha opinião, eles são a parte mais trabalhosa.

A parte sonora é agradabilíssima. A trilha é variada e combina completamente com a atmosfera do jogo. Mesmo com as viradas do enredo, continua alinhada e demonstrando a emoção certa. Além disso, usa sintetizadores que enaltecem o clima vintage. Os efeitos sonoros também acertam e sem mescla bem com o visual.

A direção de arte é a minha favorita de todos os tempos. Nunca vi algo em 2D tão detalhado. É muito satisfatória em todos seus quesitos, seja no design dos personagens ou dos mapas. Os sistemas de partículas são um dos seus diferenciais mais notáveis. Aparecem no céu, no chão, em todas as superfícies de um jeito surpreendente. Toda essa parte foi feita por Amora B., da equipe MiniBoss, uma das três pessoas que tem a nacionalidade brasileira e participaram de seu desenvolvimento.

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A direção de arte é impecável.

Celeste é uma obra-prima. Tão polido que passei semanas procurando por algum defeito e não achei sequer um. Começa despretensioso e logo se torna em uma aventura que fará qualquer pessoa chorar ou refletir sobre algo. Inesquecível. Na minha cabeça seria impossível um jogo ser difícil a essa altura e mesmo assim acolher jogadores inexperientes; seria impossível ter um visual tão pueril e tratar de assuntos tão importantes; seria impossível ter uma jogabilidade tão simples e ser tão inovador. É uma experiência indescritível.


Conclusão

Celeste acerta em absolutamente todos os pontos. Tem um audiovisual surpreendente, um gameplay inovador e um enredo inspirador. Quebra a quarta parede em vários momentos, trata de assuntos atuais e faz o jogador entrar em uma bela montanha-russa de sentimentos, por isso é tão imersivo. É indispensável para qualquer jogador.