Criar um jogo de puzzle desafiador pode parecer fácil em teoria — é só fazer a solução do quebra-cabeça ser algo inusitado, que o jogador não imaginaria à primeira vista. Na verdade, porém, a linha entre fazer uma solução que parece difícil, mas sensata, e uma que parece absurda e sem sentido é tênue. TOHU sofre com isso, começando como um jogo simpático e desafiador e lentamente se tornando um jogo frustrante e disparatado.

TOHU é um jogo de puzzle desenvolvido pela Fireart Games e publicado pela The Irregular Corporation em 28 de janeiro desse ano para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Stadia, Switch, Xbox One e Xbox Series X|S. A história se passa em um universo fantasioso onde criaturas vivem em planetas-peixe, onde o mecanismo que “dá vida” ao planeta da protagonista — uma garota sem nome — está com problemas, iniciando assim o enredo. Ela deve viajar de planeta em planeta resolvendo desafios com a ajuda de seu alter-ego, um forte robô de nome Cubus. Algo que me incomodou na narrativa é que nunca há um sentimento de progresso. Os protagonistas estão sendo perseguidos por uma figura encapuzada, e no final de cada cenário, ela acaba por causar mais problemas. Ou seja, ao invés de termos um objetivo final e irmos lentamente até ele, parece que estamos sempre progredindo e regressando, o que acaba por frustrar.

No universo do jogo, as criaturas vivem em planetas-peixe.

É possível alternar entre a garota e Cubus a qualquer momento — ela, sendo leve e ágil, pode saltar a lugares mais altos e primeiramente inacessíveis; ele, sendo forte, pode carregar objetos e mudá-los de lugar. Essa mecânica é interessante para diferenciar esse jogo de outros puzzles, mas efetivamente na jogabilidade ele não adiciona quase nada aos desafios. Aliás, já que para mudar o personagem é preciso clicar nele e o jogo por vezes requer uma interação com objetos próximos e rapidamente, essa mecânica atrapalha. Todo o sistema de hitboxes dos objetos clicáveis funciona no “oito ou oitenta”, resultando em objetos que permitem interação passando despercebidos e objetos distantes sendo clicados sem querer por causa disso.

Apesar de a jogabilidade de TOHU ser bem rudimentar — nada mais avançado que os point-and-clicks da LucasArts ou da Amanita Design — as soluções dos desafios são o oposto. Os quebra-cabeças variam de difíceis a praticamente impossíveis, já que por vezes as soluções dependem de mecanismos que existem apenas nesse universo fantasioso, parecendo absurdas ou sem sentido para nós, no mundo real. O jogo oferece um sistema de dicas, mas não é divertido ter que usá-las tão frequentemente quanto precisei, principalmente perto do final, e é preciso resolver um mini-desafio bem chatinho antes de revelá-las. Não só isso, muitas dicas parecem crípticas demais (já que só usam desenhos, e não palavras) e são confusas ou visualmente poluídas. O jogo brilha, porém, por alguns breves momentos, durante desafios clássicos como construir um circuito fechado com formas pré-distribuídas, por exemplo.

As soluções para os desafios às vezes parecem absurdas demais.

Apesar de todos os pesares, o que me encorajou mais a seguir jogando TOHU foram seus gráficos. Eles são, sem exceção, lindos, e é divertido observar todos os pequenos detalhes em cada cenário desses planetas-peixe, suas cores vibrantes e as animações de cada objeto, bem como as dos protagonistas. Também incrível é a trilha sonora, fato que já era esperado, já que foi composta por Christopher Larkin, famoso por seu trabalho em Hollow Knight. É uma pena que, mesmo com estes aspectos positivos e uma jogatina relativamente curta, eu tenha demorado dias para finalmente completar o jogo, já que acabava por sempre me entediar e ir fazer alguma outra coisa.


Conclusão

TOHU não é exatamente ruim, mas eu teria o aproveitado mais caso fosse um desenho animado. Sua jogabilidade é simples demais e as soluções para seus quebra-cabeças são absurdas, resultando em um jogo que não cativa em momento algum.